Em cada indivíduo a humanidade toda está contida. Erick Fromm disse que a humanidade não é uma abstração, mas uma realidade, de tal maneira que em cada indivíduo a humanidade toda está contida. Cada um representa toda a humanidade, e por isso todos os homens são iguais – não em relação às suas aptidões e aos seus talentos, mas em relação às suas qualidades humanas básicas.
Os Direitos Humanos têm caráter universalista. Valem para todos e todas. São direitos universais, assegurados a todos os seres humanos, pelo simples fato de existirem, independentemente de idade, sexo, etnia, crenças, nacionalidade, situação financeira, independente de profissão. Eles garantem o direito à vida e o direito natural que inclui todos os outros direitos, que é a liberdade.
Prevalece, entretanto, uma visão reduzida, em que os Direitos Humanos são vistos como instrumentos de proteção de bandidos, e não como algo que rege a sobrevivência do humano, a preservação de seu habitat e a garantia da possibilidade do desenvolvimento humano.
Mais do que nunca convém lembrar que a injustiça social, a espoliação dos direitos dos trabalhadores, a morte dos seres humanos pela força de segurança são consequências da ganância da civilização capitalista-consumista, que fragmenta e categoriza os indivíduos, para sua dominação.
Ao tentar entender o homem concreto de maneira abrangente no condicionamento do seu caráter, pode-se conceber a humanidade inteira tendo em vista a pessoa concreta. Fromm fala ainda que a ciência humanista reconhece o interesse de favorecer a dignidade, individualidade e integridade do ser humano e a convicção de que, através desses atributos, os homens se tornam mais justos, amáveis e razoáveis uns para com os outros.
O que era um só passa ser fragmentado. Homem x Natureza, Masculino x Feminino, Razão x Emoção, Técnica x Ética; Ser x Ter. Para Gadotti (2000) o cenário está dado: fragmentação que divide globalizadores e globalizados, centro e periferia, os que morrem de fome e os que morrem pelo consumo excessivo de alimentos, rivalidades regionais, confrontos políticos, étnicos e confessionais, terrorismo.
Tomaz Tadeu da Silva é muito bem vindo aqui para falar de identidade e diferença. Ele diz que a identidade, tal como a diferença, é uma relação social que está sujeita a vetores de força, a relações de poder. As diferenças são impostas. Elas não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; elas são disputadas com o intuito de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes. E tantos outros processos de diferenciação que também só existem pelo poder, como incluir/excluir (“estes pertencem, aqueles não”); demarcar fronteiras (“nós” e “eles”); classificar. (“bons e maus”; “puros e impuros”; “desenvolvidos e primitivos”: “racionais e irracionais”); normalizar (“nós somos normais; eles são anormais”).
Dividir e classificar o mundo social significa hierarquizar e atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados. Isso é amplamente aceito, tanto que é considerado natural. Mas faz parte do jogo de poder fixar uma determinada identidade como a norma.
Tomaz Tadeu da Silva fala ainda que as relações ordenam-se em torno de oposições binárias: masculino/feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual.
Normalizar é achar que essa identidade tem as características positivas e, portanto, desejável, e a outra identidade, a identidade dos de conduta divergente, gays, lésbicas, os prisioneiros, negros, os pobres, têm as características negativas.
O sistema fragmenta, categoriza, demarca fronteiras nós-eles, classifica, normaliza, divide, hierarquiza os indivíduos e isso é considerado perfeitamente natural. Quer ver? No mundo da moda imperam coisas da cor nude, se referindo ao tom da sua pele. Desde que você seja branca. Diante de tantos outros tons de pele, por que nude é a cor da pele branca? Não só no mundo fashionista os vários outros tons, são os tons dos outros.
Isso não é normal. É preciso problematizar este e todos os binarismos, afim de efetivar, o que é promulgado no paradigma do desenvolvimento humano: “vida é o mais básico dos valores e nenhuma vida vale mais do que a outra”.
FROMM, E. O Medo à Liberdade. Tradução de Octávio Alves Velho. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Petrópolis, 2000.
SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais vozes. Petrópolis: Vozes, 2000.