A revolução agrícola
Por volta de 12 mil anos, estando acampados no vale de um rio, coletando trigo, aveia e outros grãos, os humanos notaram que alguns destes grãos que eram coletados da natureza poderiam ser enterrados – “semeados” e podiam produzir novas plantas iguais às matrizes.
Passaram a cultivar as plantas e começaram a domesticação de animais, passaram de nômades a sedentários e assim surgiram as primeiras aldeias, que eram assentamentos permanentes.
A Revolução Agrícola foi uma revolução na maneira como os humanos viviam.
“Eles construíam casas e celeiros para armazenar grãos para épocas de necessidade. Inventaram novas ferramentas, como foices de pedra para colher trigo silvestre e pilões de pedra para moê-lo”. (Harari 2015, 92).
Os caçadores-coletores se tornaram agricultores, pelo menos a grande maioria deles. A agricultura proporcionou muito mais alimento e isso permitiu que o humano se multiplicasse exponencialmente. Aqui começaram as explosões populacionais.
A partir da revolução agrícola a forma do humano se relacionar com a natureza e com o outro mudou. Para Harari (2015) os agricultores tinham mais posses e necessitavam de terra para plantar. Não podiam perder pasto para vizinhos inimigos, pois isso poderia ser o fim, e por isso, em caso de divergências havia muito menos possibilidade de acordos. Vejamos, se antes, quando um bando de caçadores-coletores era ameaçado por um rival mais forte, ele juntava seus poucos pertences e ia embora. A competição não precisa necessariamente irromper em conflito.
Mas, a partir deste ponto da história do ser humano, isso muda dramaticamente. Em caso de ameaça a um vilarejo agrícola por parte de um inimigo mais forte, recuar significava perder todo o investimento de tempo e energia que foi feito (campos, casas e celeiros), por isso os agricultores tendiam a ficar e lutar até o fim.
Então, se diante da fragilidade, o humano era impelido ao cuidado, com essa mudança da mentalidade, diante do que é frágil passaram a ser levados a dominar. Se é indefeso significa que pode ser subjugado.
Na vida de caçadores-coletores havia integração do humano com a natureza. Havia afluência. Não havia pobreza. Não viviam sob o julgo de nenhum império. Todos eram iguais.
Para Mark Dyble (2015) os caçadores-coletores operavam em uma base igualitária e a desigualdade foi uma aberração que apareceu com o advento da agricultura. Passou a existir o domínio de outros membros do bando, domínio da mulher, domínio da natureza. Surgem as Elites favorecidas.
É mister reconhecer que a Revolução Agrícola contribuiu sobremaneira para prosperidade da humanidade. Entretanto, esse foi o ponto decisivo em que o Homo sapiens abandonou sua íntima simbiose com a natureza. A ruptura com milhares de anos história e o início de um novo capítulo que se for intitulado como: “uma história de ganância e alienação” dificilmente será contestado.
Em vez de passarem o tempo caminhando pelas savanas, os camponeses, passavam a maior parte de seus dias trabalhando nos campos de cereais, espremendo-se numa casa apertada de madeira, pedra ou barro.
Eles se apegaram a essa nova forma de se abrigar, sendo uma mudança impactante na arquitetura que provocou um impacto psicológico profundo.
O novo estilo de vida propiciou a separação dos vizinhos, que levou “a adoção de um paradigma psicológico de uma criatura muito mais autocentrada, em detrimento da integração que havia.
Um ponto de destaque: o destino comum dos bens. A noção de que a terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos, foi, intencionalmente, esquecida. As elites que surgiram não consideraram interessante reforçar a ideia de que a terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos. A ideia, enfim, de que o mundo foi criado para todos.
Graças às redes de cooperação, cada vez mais pessoas se juntaram primeiro em aldeias maiores, depois em vilarejos e enfim em cidades, todas reunidas sob novos reinos e redes de comércio. Segundo Harari “elas criaram cidades populosas e impérios poderosos acreditavam em grandes deuses, pátrias-mães para fornecer os elos sociais necessários”. (2015, p 110)
A maior parte destas redes de cooperação foi concebida para a opressão e a exploração. Esta é verdade! Todos obedeciam a um líder, em prol da coletividade. Essa pessoa dá o comando, mas toda a coletividade é favorecida. Essa era a ideia. Porém, o que se concretizou foi o fato dessa pessoa ficar sempre com a melhor parte. E assim surgiu o acúmulo de riquezas e por conseguinte, a pobreza.
DYBLE, M.; SALALI, G. D.; CHAUDHARY, N.; PAGE, SMITH, A.; D.; THOMPSON, J., VINICIUS, L.; MACE, R.; MIGLIANO, A. B. Sex equality can explain the unique social structure of hunter-gatherer bands. Science, Washington: American Association for the Advancement of Science, Vol. 348, Issue 6236, pp. 796-798, 15 May 2015.
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.