Idade e aprendizagem: Até quando é possível aprender?

Logo ao nascer, todo ser humano possui centenas de bilhões de neurônios. Um número que, aliás, sofre ainda pequena redução ao longo da vida. Nos primeiros anos, crescem, sobretudo, os apêndices mediante os quais cada célula nervosa envia sinais a milhares de outras. Pontos especiais de contato – as sinapses – transmitem as informações entre as diferentes células.

Por intermédio de uma quantidade superior a centenas de trilhões dessas ligações sinápticas, os neurônios se reúnem em redes capazes de se comunicar entre si, mesmo a distâncias maiores.

De início, surgem sinapses em profusão, uniformemente distribuídas. Quando, porém, certos neurônios respondem a estímulos que frequentemente se manifestam em conjunto, disparando com igual frequência de forma sincronizada, as sinapses entre tais neurônios se fortalecem, e perduram por bastante tempo.

Como um escultor que talha a pedra, dando forma a sua escultura, processos de aprendizado modelam o cérebro dotado de sinapses em excesso. Eles dissolvem conexões pouco utilizadas e fortalecem as ativas de uso frequente. (FRIEDRICH E PREISS, 2006)

Constantemente o cérebro “deleta” conexões pouco utilizadas e fortalece as de uso mais frequente. Todo e qualquer aprendizado novo provoca alteração em nossa rede neural. O desenvolvimento do cérebro está, portanto, intimamente relacionado ao aprendizado.

Você já deve ter notado que as crianças aprendem com bem mais facilidade que nós. Já deve ter ouvido o dito popular “papagaio velho não aprende a falar” ou “é de pequeno que se torce o pepino”. Essas afirmações são deterministas, pois podem levar ao comodismo de pensar: “se não aprendi até agora, não aprenderei mais” o que é um perigo! Porém, determinismo à parte, estas afirmações, infelizmente, têm um fundo de cientificidade.

O aprendizado se dá pela ligação que os neurônios estabelecem entre si, o que é chamado de ligações sinápticas. Essas ligações, portanto, o aprendizado perdura por toda a vida. Entretanto, as bases da aprendizagem são lançadas, na maioria, na infância. Os primeiros 15 anos de vida decidirão quais neurônios irão se interconectar. O amadurecimento cerebral estará completo e as linhas gerais do pensamento adulto estará definido.

Até a velhice ocorrerá o fortalecimento de sinapses e outras serão enfraquecidas com base nas experiências vividas, portanto é possível aprender por toda a vida, mas após a puberdade o cérebro perde consideravelmente a plasticidade e deixa-se modelar com menos facilidade. É por isso que temos mais dificuldade de reter na memória dados que adquirimos tardiamente.

Esse conhecimento é importante para nós educadores e educadoras, pois pode nos ajudar a desenvolver novas estratégias de ensino-aprendizado.

Sintetizando o que vimos, o desenvolvimento do cérebro depende da interação com o mundo exterior e depende da nossa estrutura genética, que está já definida em boa parte no nascimento. Existe uma fase que os neurocientistas chamam de “período crítico”, neste período ocorre os refinamentos necessários para o desenvolvimento das conexões neurais. Pois bem, se neste período a criança não recebe estímulos do meio exterior ou recebe estímulos limitados terá um desenvolvimento parcial

A multiplicidade dos estímulos exteriores determina qual será a complexidade das ligações entre as células nervosas e como elas se comunicarão entre si – a própria evolução cuidou disso. É somente quando o desenvolvimento do cérebro é determinado por aquilo que se aprendeu e experimentou que a adaptação do nosso órgão central ao ambiente em que vivemos se dá de forma ideal. (FRIEDRICH E PREISS, 2006, p. 53)

Cientes disto, os/as educadores/as podem encarar a educação como importante meio de estímulo intelectual que o cérebro demanda para desenvolver suas capacidades mentais, desde a mais tenra infância. É comum achar que não se deve educar o pensamento de crianças pequenas com medo de sobrecarregá-las, mas, dos 3 aos 10 anos, o cérebro está ávido por novos conhecimentos.

REFERÊNCIA:

FRIEDRICH E PREISS. Educar com a cabeça. Viver mente e cérebro: revista de psicologia, psicanálise, neurociências e conhecimento: Ano XIV, nº 157, 2006. 

Veramoni

Veramoni

Educadora, Palestrante e Escritora.
Criadora da Educ

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