Educação tem a ver com despertar o interesse, fazer o olho brilhar. Numa entrevista a uma revista brasileira, o maior especialista do mundo em mudanças educacionais, Michel Fullan disse ser impossível obrigar a fazer o que realmente importa. Você só pode obrigar a fazer o que não demanda reflexão ou habilidade para ser implementado e pode ser monitorado constantemente. É possível, por exemplo, determinar o uso do cinto de segurança entre motoristas. Mudanças educacionais, no entanto, requerem a aprendizagem de novas habilidades e competências, além de exigir compromisso, motivação, crença e capacidade de julgamento.
O educador precisa explicar, precisa ensinar, instruir. Mas a grande contribuição talvez seja a de provocar o pensamento e suscitar questionamentos. O educador contribui para a transformação da realidade ao problematizar. A missão é libertar o pensamento.
Uma pessoa carismática pode arrebanhar seguidores, as pessoas podem segui-la cegamente, mas a ação transformadora transcende isso. Ninguém liberta ninguém… então, problematizar! Mas do que as respostas a perguntas são libertadoras.
A ação libertadora, reconhecendo a dependência dos oprimidos como ponto vulnerável, deve tentar, através da reflexão e da ação, transformá-la em independência. Esta, porém, não é doação que uma liderança, por mais bem-intencionada que seja, lhes faça. Não podemos esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de “coisas”. Por isto, se não é autolibertação – ninguém se liberta sozinho -, também não é libertação de uns, feita por outros. Sim, Paulo Freire disse isso.
É impossível forçar a pensar de modo diferente, mesmo que este seja considerado o modo certo de pensar. Assim como é impossível forçar a desenvolver novas habilidades, mesmo que seja coisa certa a se fazer. O que se pode é, como lembra Michel Fullan, estimular essa mudança no modo de pensar, investir em alguns fatores básicos de mudança, estimular a paixão, enfim… fazer o olho brilhar.
Frente aos desafios da sociedade hodierna precisamos ajudar a formar pessoas com compromisso moral, pessoas que se empenhem em fazer diferença na vida. Pessoas conhecedoras da incompletude do humano. Que se reconheçam como incompletas. O ser que não está pronto. O ser que se faz continuamente aguçando o senso crítico, estimulando a curiosidade, refletindo sobre a vida.
O papel do professor pode ser visto como o de alguém que provoca o desequilíbrio das relações do aluno com o mundo, através de perguntas, desafios, questionamentos, e, ao mesmo tempo, oferece apoio necessário para que ele, diante de conflitos cognitivos, desenvolva uma ação auto-organizadora (DOLABELA. 2003, p. 104)
Nossa missão aqui deve ser a de preparar a nova geração para a missão de gerir a vida no século XXI. Qual será o produto da nossa ação? Se o produto da ação educativa é o sujeito educado, como será este sujeito?
REFERÊNCIA: DOLABELA, Fernando. Pedagogia Empreendedora. São Paulo: Cultura, 2003.