A instituição escolar, uma das mais antigas e sólidas dentre as instituições, atravessou séculos, testemunhou mudanças de sistemas econômicos e mudanças em modelos civilizacionais. Hoje, porém, as análises conjunturais da esfera educacional formal são desoladoras. “A rede escolar é avaliada como atrasada e ineficiente em todos os sentidos (cobertura, processo de gestão, qualificação profissional dos recursos humanos, resultados, infraestrutura física, etc.)” (GOHN, 2001) Notem que a citação é de 2001 e infelizmente não está defasada. A rede escolar ainda é avaliada como atrasada e ineficiente em todos os sentidos (cobertura, processo de gestão, qualificação profissional dos recursos humanos, resultados, infraestrutura física, e ainda tem espaço para o “etc”.
Fala-se muito na deterioração da escola pública. Ouve-se rumores de que a escola de hoje não cumpre as funções sociais que cumpria anos atrás.
Conforme afirma VEIGA (1995) “Na escola de ontem, o professor e seus poucos alunos tinham a mesma extração social e partilhavam valores e maneiras de viver”. Existe hoje, como sabemos, uma grande distância entre a vida privada do professor e seus alunos.
A superação da deterioração a que a escola está sujeita passa pela compreensão de que a instituição escolar, em especial a escola pública, é uma instituição eminentemente social que, em virtude disso, exige um esforço coletivo e não de apenas um professor, para enfrentar suas dificuldades, pelo fato destas dificuldades não serem isoladas a um professor e sim dificuldades institucionais.
Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) 20% dos brasileiros/as com idade entre 15 e 19 anos são analfabetos. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) divulgou em novembro de 2005 um relatório que aponta o Brasil como o país com o sétimo maior contingente de analfabetos do mundo, equivalendo a 12% da população. Novamente, segundo o MEC 49% das crianças matriculadas entre a 1ª e a 4ª série não sabem ler.
Aproximadamente 75% dos estudantes não entendem o que leem. O sucateamento da educação em números! Mas eles são dispensáveis para quem está dentro da escola pública brasileira e conhece sua realidade.
No Brasil a Educação Básica é constituída de três etapas: Educação Infantil (Creche e Pré-escola), Ensino Fundamental (1º ao 9º ano), Ensino Médio (1º ao 3º ano).
A retenção do estudante, sobretudos nos primeiros anos, do primeiro ciclo do Ensino Fundamental não é permitida, pois este é considerado um ciclo ininterrupto. Nos anos subsequentes, embora inexista proibição legal de retenção, a busca por apresentar melhorias nas taxas de aprovação da escola impôs a cultura da não retenção. É comum ouvir nas escolas que não pode mais a reprovar. Mesmo que o estudante não atinja o mínimo dos pré-requisitos necessários para a série. O resultado tem que ser positivo, mas o processo não sofreu alteração.
Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Pois é, Albert Einstein, parece que isso é esquecido na escola pública brasileira.
Os estudantes não entendem o que leem. Existe no Brasil um índice grande de analfabetismo funcional no Ensino Fundamental. O indivíduo considerado analfabeto funcional é aquele que mesmo sabendo ler e escrever, não entende o que está lendo. Mesmo dominando a leitura e a escrita, não possui as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para viabilizar seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Quanto ao desempenho acadêmico dos alunos, o MEC não vê como estático, mas de forma dinâmica e divulga com entusiasmo que os históricos acadêmicos recentes mostram evolução favorável em relação às médias nacionais, estaduais e regionais. Segundo o MEC, os dados de desempenho demonstram elevação na taxa de aprovação em todas as séries e disciplinas, e essa taxa situa-se, atualmente, em patamares de excelência; a taxa de abandono tem diminuído consistentemente a cada ano; a média de aprovação dos alunos, em Português e Matemática, aumenta a cada ano também; a distorção idade-série tem diminuído consistentemente.
Porém, segundo as informações do indicador de alfabetismo funcional (INAF) o aumento da escolaridade da população brasileira não se reflete na mesma proporção em termos de aprendizagem. Os estudantes estão passando pelas séries sem apreender os conteúdos necessários. Mesmo a aquisição dos conteúdos não garante que o estudante esteja adquirindo ferramentas que o permitam construir cidadania.
O esperado de uma boa escola é que apresente altas taxas de aprovação, baixa taxa de reprovação e de abandono. Para tanto é necessário que seja feito investimento estratégico no processo de Ensino Aprendizagem, em ferramentas que colaborem para a melhoria no clima escolar, investimento em estratégias que atraiam a família e a comunidade para participar da vida escolar. Precisa que sejam usadas ferramentas eficazes de gestão de pessoas e gestão de processos, que tenham infra-estrutura adequada. Isso é o que garante uma escola boa.
Esse investimento estratégico no processo, que conduziriam a uma boa escola, não vem sendo feito. Então, para obter as altas taxas de aprovação, baixa taxa de reprovação e de abandono, o que vem sendo feito é não reprovar. Não houve alteração significativa nos outros processos.
Dos critérios de eficácia escolar estabelecidos pelo Ministério da Educação, baseados nos processos desenvolvidos no ambiente escolar, o principal é o de Ensino Aprendizagem.
Quando se pensa nos processos que se estabelecem na escola, o primeiro que vem a mente é o de Ensino Aprendizagem. Diz respeito à aquisição de conhecimentos e habilidades por parte dos estudantes. Envolve a proposta pedagógica, o planejamento, os métodos e as estratégias de ensino, avaliação da aprendizagem. Aqui estão envolvidos a prática docente, a didática, os meios necessários para a construção do conhecimento.
A atmosfera geral da escola, o tipo de liderança exercido, ordem, disciplina, segurança e compromisso asseguram ambiente propício à aprendizagem. O MEC denomina como clima escolar. O clima da escola é o que resulta em ambientes em que existe a cultura do sucesso, por exemplo.
Alguns ambientes escolares são mais propícios à manutenção da disciplina que outros. Este critério, embora intangível, colabora sobremaneira para o sucesso escolar, pois a boa organização da escola propicia as condições ideais para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem.
Outro importante critério usado para saber se uma instituição de ensino é eficaz diz respeito à participação e cooperação institucional dos pais e comunidade na escola. A contribuição da família e de outros parceiros para o sucesso escolar é fundamental para o desempenho da escola.
O uso de ferramentas eficazes de gestão na escola, tanto gestão de pessoas, como gestão de processos asseguram a excelência da equipe para o desempenho das funções e clareza na compreensão da missão, dos objetivos da escola. É preciso ter método gerencial definido, assim como gerenciamento da rotina, estímulo ao trabalho em equipe, existência de indicadores e de avaliação de gestão.
A gestão dos processos exerce grande importante para a eficácia da escola. Instituições do mesmo sistema de ensino, portanto, sujeitas aos mesmos condicionantes, com quadro de funcionários similar, clientela parecida, etc. podem apresentar resultados diferentes umas das outras conforme o tipo de gestão de cada uma. Em resumo, o que diferencia uma escola boa de outra é a direção.
A infraestrutura corresponde às condições materiais de funcionamento, tanto as instalações como equipamentos, para que o ensino e a aprendizagem aconteçam de forma adequada. As condições da infraestrutura configuram-se como um dos critérios para a eficácia escola.
E por fim, resultados, correspondem ao desempenho geral da escola: taxas de aprovação, reprovação. Abandono, distorção idade-série, satisfação dos alunos, pais, colaboradores e sociedade, indicadores de melhoria das práticas de gestão, cumprimento das metas estabelecidas.
A somatória destes processos resulta no sucesso escolar. Para se obter altas taxas de aprovação de forma efetiva, com aprendizado assegurado para os estudantes, estes processos precisam ser bem desenvolvidos, sobretudo o processo de ensino aprendizagem.
Quando a escola falha em todos os sentidos e precisa apresentar bons resultados, estes resultados são obtidos pela pura e simples aprovação dos estudantes. Por isso, uma criança do 3º ano, mesmo que não consiga atingir o mínimo dos pré-requisitos necessários para ingressar no 4º ano, invariavelmente ingressará no 4º ano. No ano seguinte, invariavelmente, ingressará no 5º ano.
O adolescente do 9º ano do Ensino Fundamental não tem domínio da leitura, escrita, não consegue interpretar textos, não domina as operações matemáticas básicas. Existe defasagem na aprendizagem em todas as séries do Ensino Fundamental.
Um estudo sobre ensino-aprendizagem revelou que os estudantes acumulam defasagem durante o Ensino Fundamental. Mais de 70% dos alunos concluem
Ensino Fundamental sem ter adquirido as competências mínimas desejadas para essa etapa da educação básica. Estes estudantes apresentam 40% do repertório necessário para prosseguir no Ensino Médio (BOSSA 2017).
Na Educação Infantil a criança não é estimulada e chegar ao Ensino Fundamental com defasagem. Passa pelo Ensino Fundamental e adquirem só 40% do conhecimento necessário. E as consequências dessas defasagens acumuladas se refletem na etapa subsequente da Educação Básica, o Ensino Médio. Por isso, o sucesso escolar no Ensino Médio, bem como na Educação Superior, requer uma educação universal e de qualidade desde o início da infância. É o ideal. Mas este ideal não está sendo alcançado.
REFERÊNCIA:
GOHN, Maria da Glória. Educação Não-formal e cultura política: Impacto sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo, Ed. Cortez, 2001.
VEIGA, Ilma Passos (org.) Projeto Político Pedagógico da escola: Uma contribuição possível. São Paulo: Papirus, 1995.
BOSSA, Nádia. Problemas de aprendizagem: Estudo revela que alunos acumulam defasagem durante o Ensino Fundamental. Disponível em: file:///G:/GERAIS/Evas%C3%A3o%20Ifap/Problemas%20de%20aprendizagem%20%20Estudo%20revela%20
ue%20alunos%20acumulam%20defasagem%20durante%20o%20Ensino%20Fundamental%20-%20Guia%20Escolas.html. Pesquisado em 10/02/2017