O capitalismo e a exploração da energia do trabalhador

O mundo tornou-se desumano, porque transforma os homens em máquinas de produção, em instrumentos de lucros do capitalista. Olha-se para o humano e vê músculo. Paulo Freire tem uma explicação para isto: é que, para eles, pessoa humana são apenas eles. Os outros são coisas. Para eles, há um só direito – o direito de viverem em paz, ante o direito de sobreviverem, que talvez nem sequer reconheçam, mas somente admitam aos oprimidos. (FREIRE. 1996).

              Yuval Harari (2015) lembra que quando o crescimento se torna um bem supremo, irrestrito por qualquer outra consideração ética, pode facilmente levar à catástrofe. O capitalismo matou e está matando milhões por pura indiferença unida à ganância.  O que a contemporaneidade testemunha é que o humano deixou de ser o centro do mundo, e cedeu seu lugar ao dinheiro, como foi assertivamente mencionado por Milton Santos. E mais: o dinheiro em estado puro só é o centro do mundo, por causa dessa geopolitica que se instalou, proposta pelos economistas e imposta pela mídia.

O entretenimento é uma forma de manipulação  usado para a redução da capacidade de raciocínio, mas, em alguns casos, podem instigam mais que muitas aulas de filosofia.

A trilogia Matrix e o filme A Viagem, além de terem sido dirigidos pelos mesmo diretores, os irmãos Wachowski, têm em comum o fato de ajudar a despertar para o sentido da existência e para despertar para a busca da verdade, seja ela qual for.

Pode parecer de início que os significados sejam superficiais, mas vale muito ir desvelando estes filmes para buscar uma interpretação mais profunda.

Em Matrix o sistema retira sua energia dos mais fracos, no caso, os humanos, que não passam de pilhas que geram a energia para as máquinas. A viagem retrata a voracidade dos fortes e poderosos, que em diferentes épocas, consomem a energia dos mais fracos, que são devorados literalmente. Aliás o filme A Viagem faz diversas referenciais ao canibalismo, nas seis histórias, em diferentes contextos históricos, sociais e políticos, sempre evidenciando que o oprimido é consumido. 

 “Os fracos viram carne, os fortes a devoram”. Talvez a história mais instigante seja a de Sonmi, em que as pessoas são escravizadas, são clones. Elas pensam que serão levadas para a cerimônia de exaltação, uma espécie de transcendência, mas são executadas e transformadas em alimento.

Soylent Green é gente, Soylent Green é feito de pessoas” No filme A Viagem o editor Cavendish grita esta frase. Ele faz referência ao filme No Mundo de 2020, de 1973, dirigido por Richard Fleischer. Este filme mostra a Terra bastante modificada. Vivem em Nova York 40 milhões de habitantes. O efeito estufa deixou a temperatura insuportável, mas isso não afetou os ricos, que vivem em luxuosos condomínios, onde as mulheres são parte da mobília. A comida está escassa para todos, menos para os ricos, que têm acesso a comida de verdade e saborosa. Para alimentar o povo existem tabletes verdes chamados de Soylent Green, produzidos através da industrialização de algas. Até que passam a produzir os tabletes verdes e alimentar o povo com outra matéria prima.

O capitalismo está alicerçado na exploração da energia do povo. Não de forma literal, mas o sistema se alimenta do pobre através da exploração da força de trabalho, quando limita seu acesso a uma vida digna, à saúde, alimentação, moradia.

Um flagrante da degradação humana em decorrência do sistema produtivo adotado: a Foxconn, em Shenzhen, na China é o cenário do que está sendo denominado de “aglomerado de suicidas”. A empresa fabrica o iPod, iPhone e o iPad, dentre outros. Salários baixos e longas jornadas de trabalho são os fatores primordialmente indicados para o grande número de suicídios. (GUANABARA, 2010).

Empregados são forçados a trabalhar exaustivamente, ferindo a leis trabalhistas. Chegam a fazer mais de 100 horas extras por mês. Humano equivale a músculo, que equivale a energia. Além dos suicídios, outro absurdo flagrante da degradação humana, pode ser representado pelo caso dum homem de 28 anos, chamado Li, que morreu de exaustão após trabalhar por um turno de 34 horas. No Japão 20% da força de trabalho corre risco de sofrer “karoshi”, que já é considerado uma doença profissional. A pessoa sofre ataque cardíaco ou tem um acidente vascular cerebral, ou comete suicídio. Tudo justificável para assegurar o crescimento econômico.

O povo é sugado pela sociedade de consumo. É a carne que os fortes devoram. Nada mais que a energia/força que mantêm sistema.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GUANABARA, Gustavo.  Funcionários da Foxconn estão cometendo suicídio.  Guanabara.info, Rio de Janeiro. 2010. Disponível em: http://www.guanabara.info/2010/05/funcionarios-da-foxconn-estao-se-suicidando/. Acesso em: 31/03/17.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens – uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.

Veramoni

Veramoni

Educadora, Palestrante e Escritora.
Criadora da Educ

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