Novas estruturas sociais
O mito de que a ordem que sustenta a sociedade é uma realidade objetiva criada pelos grandes deuses ou pelas leis da natureza foi repetido como se repete um mantra e foi sendo consolidado. Portanto, o líder fazia crer que estava no comando por ser o mais apto, ou escolhido por Deus.
- Essas redes de cooperação foram possíveis porque, tanto quem estava dominando como quem era dominado acreditava nela e a respeitava. Cada um desempenhava seu papel. Como mencionado: “Um homem só é rei porque os seus súbditos se comportam perante ele como um rei” e se surgisse algum rebelde, se alguém apresentasse comportamentos desviantes precisavam ser lembrados de obedecer.
- E assim surgiram as forças de segurança: a polícia. A violência vai manter a ordem. Mas só em último caso. Como lembra Yuval Harari, (2015) embora não pareça, mas a violência é muitíssimo difícil de organizar. De todas as atividades humanas coletivas é uma das mais difíceis.
- É necessário educar as pessoas o tempo todo. Do momento em que nascem, você as lembra constantemente dos princípios da ordem imaginada, que está presente em tudo. Líderes religiosos, profetas, xamãs, gurus e similares prestam um bom serviço neste sentido. Bem menos sangrento, na maioria das vezes.
- Ao abandonar a vida de caça/coleta nômade os humanos se juntaram em cidades e foram se aglomerando mais e mais. Uma história interessante foi contada e mantida: as pessoas não podem viver juntas de forma pacífica. Para o teórico político Thomas Hobbes o estado de natureza é caracterizado pela guerra de todos contra todos. “A competição pela riqueza, a honra, o mando e outros poderes leva à luta, à inimizade e à guerra, porque o caminho seguido pelo competidor para realizar seu desejo consiste em matar, subjugar, suplantar ou repelir o outro” (HOBBES. 2000, p. 37)
- Segundo ele, tal estado só pode ser superado por um governo central e autoritário que concentraria todo o poder em torno de si, e ordenaria todas as decisões da sociedade. Para assegurar a paz interna e a defesa comum, a sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, em prol da coletividade. E mais: Este soberano deveria ser uma autoridade inquestionável. O que Hobbes chamou de Leviatã. Um contrato social, segundo o qual o sujeito abriria mão de sua liberdade em nome de um Estado protetor e detentor do poder e da coesão social.
- O Estado foi criado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. O senário está dado e é constituído pela classe dominante, o Estado (político), as forças de segurança (polícia) e a sociedade em geral. Todavia, embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos, o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante.
- Esta classe dominante controla as instituições e cujos interesses influem fortemente sobre decisões políticas, econômicas, culturais, etc., e que, portanto, controlam, no seu próprio interesse e segundo suas próprias concepções, as principais organizações públicas e privadas de um país, em detrimento da maioria. A isso dá-se o nome pomposo de Establishment.
HARARI, Yuval Noah. Sapiens – uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Ícone, 2000.