Da alienação social a uma vida plena de sentido

O indivíduo cultivou interiormente sentimentos de desamparo e solidão, pois perdeu o contato com sua dimensão mais humana, deixou de ampliar suas virtudes, e assim tornou-se incapaz de interagir com os mesmos aspectos essenciais das outras pessoas.

É a este processo se chama de alienação social. O consumo é um mecanismo usado para preencher o que é chamado de vazio interior. A busca pela realização do desejo, a busca pelo prazer é para muitos o único propósito da vida. A isso dá-se o nome de Hedonismo.

Adota-se um sistema de recompensas extrínsecas, em que as coisas ou as experiências exacerbam o materialismo. A busca da felicidade consiste em alcançar seus anseios materiais. Estes estímulos externos têm se mostrado contraproducente a longo prazo, uma vez que garantem bem-estar subjetivo, porém, momentâneo.

Para compreender este processo tem-se a metáfora da esteira hedônica, em que, querendo alcançar o bem-estar o indivíduo corre atrás da realização dos anseios materiais. A impossibilidade de alterar o estado de satisfação deixa o sujeito estagnado, parado no lugar, o indivíduo encontra-se anestesiados pela esteira hedônica.

Segundo Erich Fromm (1983), ao avançar materialmente, o humano se aparta cada vez mais dos outros seres e a liberdade tão almejada torna-se uma armadilha assustadora da qual ele tenta fugir através da conquista de recursos financeiros e da guerra pelo poder, por meio da passividade frente ao autoritarismo e do conformismo social, pois assim, segundo Fromm, o ser humano sente que não está sozinho, pois finge que possui alguma coisa, ou que é possuído por alguém.

Quanto menos conectado com o outro, com a natureza e com sua própria existência maior é a dor da própria aceitação.

A busca hedônica justifica a ida à um restaurante onde, numa noite gasta-se o equivalente ao aluguel  mensal ou a veneração de um par de sapatos numa vitrine, tal qual uma obra rara num pedestal de um museu. No entanto, nada disso traz uma satisfação duradoura. E quando o efeito da anestesia passa, sente-se a necessidade de outra experiência de consumo, e assim sucessivamente, na tentativa de fugir do confronto com sua própria existência.

Como bem lembra Peter Russell, esse apego às coisas não apenas tem sérias consequências com o relacionamento das pessoas, com o mundo ao redor, ele também afeta as vidas pessoais e leva a preocupação se o mundo dará o que se quer e isso perturba a paz de espírito, mas nenhuma dessas preocupações leva mais perto do que realmente se quer, que é estar em paz.

O que perpetua este modelo de sociedade é o fato do consumo criar momentos de transcendência. Breves, porém considerados irresistíveis para a maioria dos indivíduos. Diante de uma experiência de consumo o sujeito fica inebriado pela “felicidade” que a experiência gera. Estas experiências, porém não permitem expressar plenamente as inclinações e, portanto, não é capaz de satisfazer as aspirações mais profundas.

Estar cercado por amigos e familiares é um dos determinantes mais importantes do bem-estar. A constatação de que as melhores coisas da vida são de graça, como afirma Henry Thoreau: o homem mais rico é aquele cujos prazeres são os mais simples, são afirmativas que podem provocar a reflexão necessária para a reversão da lógica do consumo e promover a mudança de concepção em que poder ter não significa precisar ter.

Recorremos, então, a Ferreira (2005) para elucidar que numa sociedade sustentável, o progresso é medido pela qualidade de vida (saúde, longevidade, maturidade psicológica, educação, ambiente limpo, espírito comunitário e lazer criativo) em vez de puro consumo material, como é apregoado na sociedade de consumo.

Família e comunidade parecem ter mais impacto na felicidade do que dinheiro. Pessoas com famílias coesas, que vivem em comunidades unidas, que lhes dão apoio são significativamente mais felizes do que pessoas cujas famílias são disfuncionais e que nunca se encontraram, ou nunca buscaram uma comunidade da qual fazer parte.

  • Esta presença deve definir a vida em termos de ser e não de ter.
  • riar o equilíbrio entre consumidores, produtores e distribuidores e leva a refletir criticamente sobre o ato de compra. Isso contribui para a uma intervenção menos impactante no meio ambiente.
  • o movimento denominado consumerismo se afirma como um modelo de ação coletiva na medida em que engloba integralmente as preocupações com justiça e equidade na relação de consumo e evoca uma noção de consumidor que não corresponde ao que o mercado espera. Para os autores, na decisão de compra os critérios como saúde, segurança, e proteção ao meio ambiente são inseridos e respeitados.
  • Isso certamente passa pela mudança na forma de se relacionar com o dinheiro e com os bens materiais.
  • A evolução moldou mente e o corpo para a vida de caçadores-coletores. A transição primeiro para a agricultura e depois para a indústria condenou os indivíduos a uma vida antinatural. A superação parte de uma mudança de concepção que possa reintegrar o ser humano com sua essência.  

COSTA, A. C. G. da. A Presença Educativa.2ª. ed. São Paulo: Global Editora, 2002.

FROMM, E. O Medo à Liberdade. Tradução de Octávio Alves Velho. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens – uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.

LANG, Tim; e GABRIEL, Yiannis. A Brief History of Consumer Actvism. In.: HARRISON, R.; NEWHOLM,T.; SHAW, D. (org.). The Ethical Consumer. Londres, Sage Publications, 2005.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessário à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

RUSSELL, Peter. O buraco branco no tempo.VÍDEO.  Ano de Produção: 1999.

Veramoni

Veramoni

Educadora, Palestrante e Escritora.
Criadora da Educ

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