A educação deve ter, primordialmente, a finalidade de promover a formação de pensadores, a finalidade de educar a emoção e de expansão e desenvolvimento da inteligência.
A escola é uma instituição responsável pela produção de um bem ou serviço imprescindível à sociedade. O resultado deste serviço é o sujeito educado, dotado de condições de intervir qualitativamente na realidade, em outras palavras, apto a exercer cidadania.
Mas a escola pública brasileira cumpre essa função? Qual a verdadeira função da escola?
Hoje, o volume de conhecimento é altíssimo e bastante setorizado. Nossa sociedade é alicerçada nos pilares racionais. A ciência ocupa lugar central e acredita-se apenas no que é cientificamente comprovado. Sentimentos e emoções são relegados a planos inferiores.
Essa divisão entre razão e emoção é estimulada na escola, que privilegia a primeira em detrimento da segunda. O aluno/a deve nela penetrar desprovido de emotividade, já que lá está para adquirir conhecimento.
Professores/as e alunos/as passam tanto tempo juntos e são estranhos, não sabem nada um do outro, não interagem como humanos em formação. A vida do educando/a, assim como as experiências por ele/a vivenciadas não contam, não cai na prova e nem será cobrado no vestibular. Os professores limitam-se a exigir que seus alunos decorem fórmulas e teorias que pouco ou nada lhes dizem respeito.
Pouca aprendizagem realmente acontece porque o conhecimento só ocorre com base em experiências vividas, sem experienciar atividades significativas para sua vida o aluno/a não produzirá conhecimento de fato. Podemos nos perguntar com base na escola que conhecemos: Que vivência os/as alunos/as têm dos conteúdos que lhes são diariamente despejados na memória, anos após anos?
A escola (…) inicia-nos desde cedo nas técnicas do esquartejamento mental, separando razão e sentimentos. Isso é compreensível segundo a lógica que rege a moderna sociedade industrial: Os indivíduos devem produzir num esquema racionalista, sem deixarem as emoções e sentimentos interferirem no processo. (DUARTE JR: 1988).
Segundo estes ditames, quanto mais setorizada e especializada a visão de mundo dos indivíduos, melhor, desprezando uma visão geral da vida.
Falta às pessoas uma visão cultural do todo em que vivem. Cada um possui conhecimentos parciais, desconexos, sem uma visão de mundo que os integram num todo significativo. (…) Há uma esquizofrenia (em grego literalmente = mente dividida) latente na organização de nosso mundo. (DUARTE JR: 1988).
Como a escola se especializou na formação de quadros para a sociedade, se esta está fragmentada, são educados indivíduos fragmentados, com uma visão parcial da realidade.
A educação que não desenvolve uma visão do todo, que não está relacionada com a experiência de vida, que forma indivíduos mecânicos e alienados não pode ser considerada educação, mas adestramento.
Georges Bernard Shaw proferiu uma frase, que apesar de polêmica, pode nos ajudar a repensar a escola, movidos por um profundo amor à educação e teimosa esperança de que podemos transformá-la: “Minha educação só foi interrompida nos anos em que frequentei a escola”. Faz-se necessário um intenso compromisso com a melhoria da qualidade da educação para reverter a situação em que se encontra a educação escolar.
O que nossa realidade revela é que os professores são preparados para um bom desempenho nas suas respectivas disciplinas. Falta uma força que aglutine os propósitos do coletivo de professores e de toda a comunidade educativa. Os objetivos escolares são, antes de tudo, socioculturais.
Mais importante que buscar um bom desempenho apenas na sua disciplina específica, o professor/a deve buscar ter um bom desempenho enquanto professor/a, enquanto cidadão/ã de uma comunidade escolar, com propósitos sociais que transcendem a transmissão dos conteúdos de determinada disciplina.
Ser um bom professor/a não significa apenas repassar bem o conteúdo da sua disciplina. Como bem lembra VEIGA (1995) “Não é raro encontrar-se um bom corpo docente numa escola ruim”. A excelência na educação de uma escola não se adquire de forma isolada, mas com iniciativas institucionais.
A escola é mais que um agrupamento de professores, técnicos e direção. É, ou ao menos deveria ser, uma entidade coletiva de relevante importância para a sociedade que a acolhe. A escola, ou melhor, o mundo escolar, é uma entidade coletiva situada num certo contexto, com práticas, convicções saberes que se entrelaçam numa história própria em permanente mudança. Esse mundo é um conjunto de vínculos sociais fruto da adesão ou da rejeição de uma multiplicidade de valores pessoais e sociais. (VEIGA, 1995).
O alcance dos objetivos socioculturais se distancia quando, a cada ano, milhões de crianças são deixadas sem qualquer tipo de contato com o ensino escolarizado. Cabe questionar a intencionalidade desse processo.
A precariedade das condições de funcionamento das escolas públicas leva a pensar se escola não seria meramente um local para acomodar os filhos das classes menos abastadas, em estruturas com condições precárias de funcionamento, atendidos por funcionários mal remunerados e desprestigiados, que precisam atuar em salas superlotadas, tendo, em muitos casos, o quadro-de-giz como único recurso disponível.
A grande questão que envolve a eficácia da escola de hoje é que ela não é uma escola para hoje, mas para o ontem, incapaz de servir aos interesses da sociedade aberta, global e complexa em que vivemos.
Como saber se as obrigações sociais da escola estão sendo eficazmente cumpridas? Que critérios usamos para definir a qualidade de uma determinada escola? Existe uma escola ideal? Que requisitos podem servir de indicadores de qualidade da educação escolar? O que se espera de uma escola para que ela seja considerada boa?
Diz-se que um sistema de ensino é bom se ele conseguir exprimir com clareza o que se espera dele. Percebe-se, entretanto, que as escolas desconhecem o que se espera delas. E a sociedade espera muito da escola.
A escola tem a função instrucional, que é, digamos, a função de preparar os indivíduos para o mundo do trabalho. Tem ainda a função socializadora, que mesmo sem muita ênfase no preparo dos profissionais da educação para desenvolvê-la, esta função acaba acontecendo pelo próprio convívio espontâneo.
Como mediação para a apropriação histórica da herança cultural a que supostamente têm direito os cidadãos, o fim ultimo da educação é favorecer uma vida com maior satisfação individual e melhor convivência social. A educação, como parte da vida, é principalmente aprender a viver com a maior plenitude que a história possibilita. Por ela se toma contato com o belo, com o justo e com o verdadeiro, aprende-se a compreendê-los, a admirá-los, a valorizá-los e a concorrer para sua construção histórica, ou seja, é pela educação que se prepara para o usufruto (e novas produções) dos bens espirituais e materiais. (PARO, 2007).
Então, em resumo da escola é exigida a formação de indivíduos com competência técnico-administrativa, porém não é só isso. É também é exigida da escola de hoje a formação de cidadãos comprometidos que não se alienem do momento histórico, social, econômico e político, que sejam fazedores da sua história.
Para tanto se faz necessário mudança educacionais profícuas que incorporem, além das funções clássicas, a função de estimular inteligências e gerenciar seu pensamento e sua existência.
REFERÊNCIA:
DUARTE JR. João Francisco. Por que arte educação? Campinas, Ed. Papirus, 1988.
PARO, Vitor. Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino. São Paulo: Ática, 2007.
VEIGA, Ilma Passos (org.) Projeto Político Pedagógico da escola: Uma contribuição possível. São Paulo: Papirus, 1995.