Nas últimas décadas vem aumentando consideravelmente a confiança de que a educação pode promover mudanças reais na vida das pessoas. E neste contexto, a educação assume cada vez mais lugar de destaque na sociedade moderna.
O aumento da confiança na educação vem ocorrendo, entre outras coisas, pela mobilidade social que a educação promove, mesmo que essa mobilidade ocorra lentamente e que não atinja a todos e todas.
Não podemos nos vestir com um otimismo ingênuo e achar que o nosso aluno/a pobre da escola pública terá as mesmas chances de ascensão social do que os que já são bem assistidos.
Mas vejamos aqueles casos de jovens de periferia que, vão à escola pública e lá encontram bons professores/as, que fazem cursos de informática no contra-turno, participam de uma ONG do bairro, sabem aproveitar a oportunidade e prosperam. Casos assim são menos raros do que imaginamos e nos fazem renovar a esperança e vontade de fazer direitinho nosso trabalho de educadores.
São para esses jovens e para essas crianças, para quem precisa a todo instante lutar para que seus direitos sejam garantidos, desassistidos de quase tudo que a escola pública existe. Ela precisa funcionar.
Excluem-se da escola os que não conseguem aprender, excluem- se do mercado de trabalho os que não têm capacidade técnica porque antes não aprenderam a ler, escrever e contar e excluem-se, finalmente, do exercício da cidadania esses mesmos cidadãos, porque não conhecem os valores morais e políticos que fundam a vida de uma sociedade livre, democrática e participativa. (BARRETO, 2003)
Conceitua-se cidadania como ato de gozar dos direitos civis e políticos de um Estado e de desempenhar seus deveres para com este. Esta é a conceituação que a maioria de nós tem em mente, de forma que sempre que se fala em cidadania logo surge a noção de direito e dever.
A construção da cidadania implica na formação de sujeitos sociais conscientes e ativos que, reconhecendo suas necessidades, estejam aptos a definir seus direitos. Em vista disto, cidadão é quem está em condições de exercer o direito de definir seus direitos respondendo com dignidade as suas necessidades.
Quando vemos a precariedade da população que não tem acesso à saúde nem à educação de qualidade, com sua segurança ameaçada pela violência, ou sofre por ameaças naturais, como problemas decorrentes de enchentes, erosões ou secas, que trabalha muito e não recebe o real valor do seu trabalho, vemos que cidadania é poder exigir o que precisa, é poder participar ativamente das decisões, é poder ser reconhecido como ser humano, que precisa de comida, mas também de diversão e arte, enfim é ser reconhecido como sujeito da sua história.
A fragilidade da cidadania se deve a ausência de luta popular, que contribuiu para a formação da cultura de acomodação e passividade que temos hoje.
Temos no Brasil pouca experiência em democracia, saímos a pouco de um rigoroso regime ditatorial que assolou não só nosso país, como a América Latina, fortemente apoiado pelos Estados Unidos da América. A escola pública é herdeira dessa história e a isso se deve a postura reacionária, autoritária e altamente burocratizada que até hoje ela assume.
A quem interessa que a Escola Pública não tenha bons resultados? Precisamos analisar se seria interessante para os detentores do poder que o povo receba condições de reflexão e estímulo à participação cidadã.
Uma classe bem esclarecida de seus direitos não se deixa oprimir.
Quando se vê casos de fracasso da escola pública vê-se que não é um mero acaso. Ele faz parte de um estruturado processo de dominação, que lança mão da ignorância do povo para prosperar. Por mais camuflado que seja, estamos diante de um processo de “bestialização”.
Resta saber se enquanto professores, pais, enfim enquanto educadores, seremos agentes desse processo, ou lutaremos para que nossos jovens tenham o direito de ter boa informação, reflexão e todo o instrumental necessário para ser no mundo. Para desenvolver todo o seu potencial.
Enquanto esse processo de dominação das forças hegemônicas se utilizam da escola para se instalar, os usuários, docentes e demais membros da comunidade escolar atiram em seus pares acusações pelo fracasso da escola.
Diante de problemas reais não podemos nos limitar às fórmulas vazias, aos conteúdos desconectados da realidade.
A educação escolar deve ter por finalidade a formação humana. Não basta formar para o trabalho, ou para a sobrevivência, como parece entender os que veem na escola apenas um instrumento para prepara para o mercado de trabalho ou para entrar na universidade.
A escola deve preparar para a própria vida, não para o futuro, mas para o viver bem, isto é, para o desfrute de todos os bens criados socialmente pela humanidade. É preciso que a escola seja prazerosa e alegre para seus alunos desde já.
A primeira condição para propiciar isso é que a educação se apresente enquanto relação humana dialógica, que possa garantir a todos os envolvidos, condições de serem protagonista do processo.
REFERÊNCIA:
BARRETO, R.G. As tecnologias na formação de professores: o discurso do MEC. Educação & Pesquisa , n. 30, jul./dez. 2003. p. 271-286.