“A educação é um fenômeno próprio dos seres humanos” (SAVIANI, 2000). Afirmar isso significa dizer que para se compreender a natureza da educação precisamos compreender a natureza humana.
O humano distingue-se dos demais seres vivos pela sua capacidade de adaptar a natureza a si, transformando-a, enquanto os demais seres vivos adaptam-se a ela. O humano precisa produzir a todo instante sua existência enquanto os demais seres vivos, adaptando-se, têm sua existência garantida.
Por isso o ser humano é o único ser histórico, pois apenas ele vivi em perpétua transformação, pelo passado que guarda na memória e pelo projeto do futuro. Sua unidade existencial o torna único e insubstituível. Segundo Kant, “é o único ser cuja existência é um valor absoluto, é um fim em si e não um meio para outras coisas”.
Ao transformar a natureza, o humano produz trabalho e é o trabalho que o diferencia, a partir do momento em que planeja a ação e tem consciência desse ato. O humano é, portanto, criador de sua própria “humanidade”.
Segundo Ortega Y Gasset (1963) para o humano “somente o supérfluo é necessário”, visto que ele não se contenta apenas com a satisfação das necessidades naturais. Além de sobreviver, ele deseja estar bem. Por isso busca sempre novos objetivos que vão além da satisfação das necessidades naturais.
Tornamo-nos humanos pela educação. É pela educação que aprendemos a ordenar o mundo, apreendemos as verdades da comunidade, enfim, nos socializamos, ou seja, adquirimos uma forma de pensar, falar, agir, segundo os ditames da cultura em que estamos inseridos. Apesar de acharmos que nossas posturas são naturais, na verdade, tudo o que somos é apreendido ao longo da nossa existência.
Como afirma RODRIGUES (1992) “A educação é do tamanho da vida. Não há começo. Não há fim. Só há travessia. E se queremos descobrir a verdade da educação, ela terá que ser descoberta no meio da travessia”.
Assim faz sentido afirmar que a educação começa já na concepção, continua após o nascimento e vai pelo resto da vida. Implica, portanto, um constante reeducar-se e uma permanente autoeducação. Aprendemos a sermos humanos através do convívio com os demais membros da nossa comunidade.
Tanto é verdade que crianças perdidas ou abandonadas na selva em tenra idade não aprenderam a ser seres humanos, aprenderam a ser animais, desenvolveram andar quadrúpede, dentes mais pronunciados, não falavam, apenas uivavam e grunhiam. Nada aprenderam e com o contato com a sociedade, quando levadas ao convívio social, na adolescência, logo morreram. É, portanto, pelo processo educacional primário que nos tornamos seres humanos.
Independente da concepção de educação, independente das influências que o local atribui para a elaboração destas concepções, podemos considerar como grande conquista deste século a ideia de que “não existe idade para a educação, de que ela se estende pela vida e que não é neutra”. (GADOTTI, 1997)
Nas culturas ditas “primitivas” o processo de aprendizagem é natural. A herança cultural é transmitida informalmente por qualquer membro da tribo às novas gerações pela vivência entre adultos e crianças.
Já nas culturas “civilizadas” houve a ampliação do conhecimento e a divisão entre os indivíduos com base na economia e gerou também a divisão do saber. Aí surgiu a Escola como responsável pela transmissão do conhecimento às novas gerações.
Até o século XVI as crianças precisavam abandonar sua casa para receber educação escolar, que era ministrada por mestres, isoladamente do ambiente familiar, causando uma grande perda emocional, provocada por essa distância. Após isso a escola se difundiu e as crianças passaram a voltar para casa após o período de aula e a escola assumiu a estrutura que tem hoje.
LA TAILLE, (1992) fala que na sociedade contemporânea a escola adquire especial importância e as relações nela estabelecidas são imprescindíveis na construção dos processos psicológicos dos sujeitos. Na situação de ensino-aprendizagem a intervenção pedagógica leva o educando a desenvolver avanços que não ocorreriam espontaneamente.
“A importância da intervenção deliberada de um indivíduo sobre os outros como forma de promover desenvolvimento articula-se com o postulado básico de Vygotsky a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança”.
(LA TAILLE, 1992).
Essa intervenção que se dá pelo adulto durante o ato educativo propicia o acesso dos sujeitos ainda imaturos da cultura letrada ao conhecimento. Essa intervenção, que chamamos de diretividade, é condicionada pelas opções ideológicas que o educador/a faz, ciente disso ou não.
REFERÊNCIA:
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo, Ática, 1997
LA TAILLE, Ives de, et all. Piaget, Vygotsky, Wallon. São Paulo: Summus, 1992.
RODRIGUES, Neidson. Da Mistificação da Escola à Escola Necessária. São Paulo, Ed. Cortez, 1992.
SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico Crítica: Primeiras aproximações. Campinas, Ed. Autores Associados, 2000.
ORTEGA Y GASSET, J. Meditação da Técnica. Vicissitudes das Ciências. Cacofonia na Física. Rio de Janeiro, Editora Livro Ibero-Americano. 1963